Eu vi crianças implorando por algumas moedas para poder
ajudar a mãe a comprar o próximo jantar. Elas podiam pedir um carrinho, uma
boneca, até mesmo um vídeo game. Mas elas só queriam ter algo para comer.
Vi mães passando fome para seus filhos terem o que comer.
Elas podiam estar fazendo a comida preferida do filho mais velho e dando algum
doce de sobremesa, que a filha mais nova adorava. Mas ela não tinha nenhum dos
dois.
Eu ouvi o choro da esposa que apanhava do marido por não
deixá-lo bater em seu filho. Ela podia estar o abraçando depois de um longo dia
de trabalho e dizendo como o ama. Mas ele bebia.
Passei em frente uma senhora que estava sentada na
calçada pedindo dinheiro para comprar o café da manhã. Ela podia estar na casa
dela vendo programas de culinária do tipo que minha avó adora. Mas ela não tinha casa.
Eu vi um jovem que não precisava pedir dinheiro, pois
seus pais davam tudo o que ele queria. Sempre que ele sentia vontade de comer
algo seus pais compravam, por mais caro que fosse.
Esse jovem odiava ir à casa de sua avó, pois achava
tedioso o fato dela só ver programa de culinária, mas adorava as comidas que
ela fazia.
Sempre que o pai desse jovem chegava do trabalho dava um
beijo na sua mãe, mas não o beijava, pois o jovem achava clichê demais.
Mas aquele jovem tinha depressão, ele se cortava e
chorava toda noite. Achava-se injustiçado e se revoltava com tudo que não fosse
da maneira dele. Fazia questão de mostrar para todos que seus pais eram os
piores pais do mundo e odiava a própria família. Ele dizia que quando fizesse
dezoito anos iria sair de casa.
Ele podia não ter o que comer, não ter onde morar, onde
dormir. Podia passar frio toda noite ou ver sua mãe apanhando de seu pai todos
os dias. Mas a ignorância na cabeça dele era muito grande para ele dar valor no
que tinha.